sábado, 31 de março de 2012

Cláudia Abreu embarca no tecnobrega e se prepara para voltar à TV

São 8h45 de uma terça-feira de março. Cláudia Abreu chega ao salão de café da manhã de um hotel na Vila Olímpia, em São Paulo, onde está hospedada.
Pede desculpas --a primeira de uma série-- pelo atraso de 15 minutos. Explica que não trouxe nada para tirar a maquiagem e ficou lavando o rosto para ver se o rímel saía. "Caraca, tô um guaxinim!" E segue para a desculpa dois: "Vou ter que ficar de óculos escuros. Olha isso", diz, levantando a armação e mostrando o borrão preto ao redor dos olhos.

Aos 41 anos, com 25 de carreira e quatro filhos, Cláudia Abreu se afastou da TV para cursar filosofia


Seu iPhone toca. Desculpa-se pela terceira vez. "É minha filha, vou ter que atender", avisa. "Oi, meu amor. Você tá no recreio? Ah, não faz isso. Já, já eu vou chegar. O papai vem amanhã. Te amo." Desliga e conta que a primogênita, Maria Maud, 11, é a mais apegada, a que chora. "Ela foi filha única durante seis anos."
Dois dias antes, quem chorava de "bater ombrinho" na ponte aérea Rio-São Paulo era Cláudia. Aquela seria a primeira noite longe do filho caçula, Pedro Henrique, de cinco meses.
A atriz e o marido, o cineasta José Henrique Fonseca, 47, também são pais de Felipa, 5, e José Joaquim, um ano e sete meses. E ela ouve com frequência a pergunta: "São todos do mesmo pai?" "Tô muito feliz com a minha gangue. Amo ser mãe. É uma vida cheia pra sempre."
Afastada há quatro anos do trabalho, a carioca que cresceu no Leblon volta às novelas no dia 16 de abril. O convite para protagonizar "Cheias de Charme", próxima novela das sete da Globo, surgiu quando ela vivia a fase "minha melhor amiga é a babá".
Seu retorno à TV será com humor. Na trama, ela interpretará a cantora Chayene, rainha do "eletroforró". Por causa da personagem, já gravou com o sertanejo Michel Teló. E cantou com Gaby Amarantos, a Beyoncé do Pará, na noite anterior à conversa com Serafina, em um evento da emissora.
ARREBENTOU

Cacau, como é chamada, pede um tostex de queijo branco e um café. Dá duas mordidas ao longo de uma hora. "Não consigo falar comendo."
A novelista Glória Perez, hospedada no hotel, passa pela mesa. "Não reconheci você ontem. Arrasou!" Ela agradece, tímida. Um SMS chega. "É do Marquinho Palmeira dizendo que eu arrebentei."
A atriz conta que Chayene vive do sucesso, da fama, "mas um dia levará um tombo da vida e vai perder tudo". Uma experiência que ela afirma desconhecer. "Não me levo a sério para isso. Sempre tive um alerta de que a vida é normal. Que o sucesso e a fama são consequências de um momento de trabalho. Fiz outras coisas, tive a minha vida real."
E nessa vida real, ela agora é empresária. Junto com o marido e um sócio criou a produtora Goritzia. E pensa em começar a escrever. "Fico de olho em projetos, em coisas que possam vir a ser roteiros", diz.
Às 11h, no Café Uranus, no bairro Santa Cecília, onde foram feitas as fotos destas páginas, a atriz pede uma garrafa de 1,5 litro de água. E se alegra com as barras de chocolate, seu único pedido. "Eu amo! Não preciso de mais nada."
Cinco meses depois de dar à luz, está em forma e veste um microshort para as fotos. "A esperteza é não engordar muito na gravidez." Veterana no assunto, assume que sempre sobram "uns três quilos" que não querem ir embora. "Se você vacilar, eles ficam para sempre", ri. Para perder peso, trocou o jantar por "uma sopinha". E começou a andar na esteira. "Malhação? Não, já é minha vida."
A famosa crise dos 40 não passou por ela. "Mas claro que a idade bate, porque você pensa: a próxima parada é 50. A contagem regressiva da vida é muito ruim. Você não quer ter menos disposição, menos beleza, menos tempo com quem você gosta."
Vaidosa sem obsessão, diz que a busca pela juventude eterna é uma batalha perdida. "Quero ser uma mulher bacana com quatro filhos, com a minha idade. Não quero buscar uma cara e um corpo que não sejam compatíveis com a minha história."
Mas tem consciência de que, na sua profissão, ficar mais velho é cruel. "Você envelhece em praça pública." E acredita que uma ruga no rosto confere credibilidade ao ator. "Tenho 25 anos de carreira. Não dá para enganar as pessoas, fingir que você não tem essa bagagem. Mais do que bonita, quero ficar de verdade."

NIETZSCHE E JAGGER
Foi por causa dessa eterna busca por verdades e por achar que lhe faltava um pouco de "estofo intelectual" que Cláudia decidiu prestar vestibular para filosofia aos 30 anos. A escolha do curso "foi porque ia me dar conhecimento e um olhar sobre as questões essenciais da vida, do que é o ser humano, Deus, a metafísica. Queria conteúdo e reflexão", filosofa.
Adora Platão e Nietzsche. E Fernando Pessoa e Baudelaire. O sogro, Rubem Fonseca, 87, também está na lista dos autores preferidos. "Ele é uma figura. Muito engraçado e gaiato. Nos damos muito bem", fala. O nome de seu primeiro filho homem, José Joaquim, é uma homenagem ao escritor, que batizou um personagem de "O Seminarista" assim. "Ele é muito bom avô. Vai sempre ao Talho Capixaba [uma delicatessen no Leblon] atrás do bolo preferido das netinhas."
O relacionamento com o marido, "o Zé", começou quando ele a convidou para fazer o filme "O Homem do Ano". O casamento foi no papel -"quando a gente se apaixona fica bem tradicional"- e estão juntos há 15 anos. "Não temos nenhum motivo para estarmos juntos sem ser a vontade de estar junto. Ele também é atraente, eu dou pro gasto. Não penso no 'pra sempre'", diz.
Avessa à exposição, Cláudia adora sair do Rio com a família e ir para o sítio que tem na serra fluminense. "Tem gente que gosta de aparecer o tempo todo, mesmo sem estar trabalhando. Não estou criticando, é uma opção. Eu tenho necessidade de sumir, de reabastecer as energias." Vai a festas, ao teatro, a um samba na Lapa, "mas não faço dessas coisas um compromisso".
Musa dos caras-pintadas que foram às ruas pedir o impeachment de Collor em 1992, por causa da personagem Heloísa, a guerrilheira que luta contra a ditadura militar na minissérie "Anos Rebeldes", diz que não participa de nenhum movimento político, mas é politizada. "Adoro política internacional." Não diz em quem votou na última eleição presidencial. Mas gosta da história da presidente Dilma Rousseff, uma "guerrilheira que foi torturada".
Antes de começar a ser fotografada, comenta com a equipe que é fã dos Rolling
Stones e que adorou ler a biografia de Keith Richards. "Queria ser o Mick Jagger. Ter aquele rebolado, aquela alegria e ainda cantar pra cacete."
De bom humor durante o ensaio, não reclama de ter que ficar um tempo maior do que o previsto para as fotos. E não pede desculpas a si mesma por estar trabalhando quando dois bebês a esperam em casa.
"Estou no momento de falar: minha família eu já construí. Vou cuidar dela da melhor maneira possível, mas agora também vou cuidar de mim."


Fonte: F5

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