RIO - Caçula dos quatro filhos de Cláudia Abreu com o cineasta José Henrique Fonseca, Pedro Henrique ainda estava com 2 meses de vida quando a atriz recebeu a sinopse de “Cheias de charme”. Grande vilã da nova trama das 19h, Chayene, uma cantora amoral, conhecida como a rainha do “eletroforró”, mas já em declínio na carreira, fez a atriz abrir mão do restante da sua licença-maternidade. Amanhã, a mãe de Maria Maud, 11 anos, Felipa, 5, José Joaquim, 1 ano e 8 meses, e Pedro Henrique, hoje com 6 meses, volta ao ar, e de forma exuberante, na novela que substitui “Aquele beijo”, na Globo.
— Eu estava muito em casa. Foi bom botar um salto e uma roupa com brilho — empolga-se Cláudia, enquanto se prepara para posar para a Revista da TV, num restaurante do Leblon.
A atriz aproveita o momento da entrevista para ser maquiada. E vibra ao notar que usará cílios postiços.
— Por causa da Chayene, estou tão apegada a esse tipo de coisa que você nem pode imaginar. Já me sinto nua sem maquiagem — exagera.
Na novela, o primeiro trabalho de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira como autores titulares (leia mais na página 14), a atriz será uma cantora tão popular quanto a Joelma, da banda Calypso. O que fará Cláudia surgir em cena com figurino dourado ou prateado, repleto de franjas e penas, em um visual inspirado na boneca Barbie. Até uma pedrinha de strass colada na pinta do canto direito da boca ela usará para interpretar a cantora nascida em Sobradinho, no Piauí, conhecida pelo sucesso “Xote da brabuleta” — a própria atriz soltará a voz na trama.
— A Cláudia foi uma surpresa porque tinha acabado de ter o quarto filho e a gente nem sonhava com ela. Mas a Denise (Saraceni, diretora de núcleo) insistiu para que mandássemos a sinopse, e ela se apaixonou pela Chayene — lembra Filipe.
A atriz explica que é difícil abrir mão da presença dos filhos neste momento, mas não teve como dizer não ao convite.
— A Denise me mandou a novela e fiquei muito a fim de fazer. Eu tinha um pouco de angústia em imaginar que não iria mais me interessar por papel algum. E pensava: “O que vai me levar de volta ao trabalho sem me fazer sofrer?”. A Chayene é distante de tudo o que eu fiz e do que eu sou. Eu tô em casa com um bebezinho e, de repente, vou para o trabalho e baixa uma pombagira. Parece outra pessoa — aponta.
Sucesso principalmente entre as empregadas, Chayene começa a perceber a sua decadência depois de insultar sua própria doméstica, Maria da Penha (Taís Araújo), que a coloca na Justiça. Desesperada por não ser mais a bola da vez, ela será capaz de tudo para não perder o brilho, até inventar um falso namoro com o cantor-sensação Fabian (Ricardo Tozzi).
— Ela é um pouco ninfomaníaca, mas não pega ninguém — diverte-se a atriz.
Cláudia diz caber muita coisa na personagem. Para ela, a cantora não é apenas uma vilã clássica que se ocupa em fazer maldade.
— Chayene é mau-caráter, grosseira, gosta de humilhar as pessoas, não trabalha com o limite da ética. Joga sopa na cara da empregada, a chama de porca e jumenta, mas tem humor — enumera. — Ela tem um pouco de novela mexicana, de Almodóvar... Pode tudo o que eu quiser botar de superlativo.
Apesar de ter se inspirado no universo de Joelma e de outras cantoras como a paraense Gaby Amarantos e a vocalista da banda Aviões do Forró, Solange, Cláudia avisa que Chayene “é tudo isso com uma lente de aumento”. Em sua luta para se manter nos holofotes, a diva esbarrará com um sucesso inesperado: um novo trio musical formado pelas empregadas domésticas Penha, Maria do Rosário (Leandra Leal) e Maria Aparecida (Isabelle Drummond).
Longe das novelas desde “Três irmãs” (2008-2009), Cláudia conta ter engravidado de Pedro Henrique apenas sete meses depois do nascimento do terceiro filho. A gravidez não foi planejada, mas bem-vinda.
— Ele veio de surpresa e fez todo o sentido. Antes de ter filho, eu não era muito ligada em criança. Tem pessoas que são maternais desde novinhas. Não era o meu foco ser mãe. Mas quando os filhos vieram foi tão avassalador, descobri uma vocação...
A atriz afirma que “poderia ser só mãe”. Ao falar da prole, pega o iPhone para mostrar uma foto em que está ao lado do marido e dos filhos.
— Hoje eu tenho uma gangue, uma galera. Mas eu me entendo bem com esse caos. Tenho uma equipe que me ajuda, mas gosto de participar, de botar para dormir. Pô, eu botei quatro filhos no mundo. Não vou delegar e tudo bem.
Para Cláudia, a rotina da maternidade não é penosa. Ela explica que o trabalho a completa, renova e lhe dá individualidade. Mas dar conta disso tudo cansa.
— Estou à beira de uma estafa. Eu não durmo mais. E vivo à base de ginseng e café.
O tom não é de reclamação. Mas o tempo agora é exíguo. No dia seguinte ao da entrevista, Cláudia ensaiou para novas cenas de show de Chayene — uma das primeiras sequências gravadas pela atriz foi numa apresentação do cantor Michel Teló.
Apesar de todo o trabalho que uma novela traz, a atriz, de 41 anos, passa a impressão de leveza durante a conversa.
— As pessoas falam só de coisas ruins da passagem do tempo. Eu quero falar das boas: você não se aborrece mais com tanta coisa. Fazer 40 anos e ter tido meu quarto filho me deu uma liberdade. Tenho 25 anos de carreira, 15 de casada... Senti orgulho de ter feito tanta coisa sólida até aqui.
Lembrada até hoje por tipos como a princesa Juliette, de “Que rei sou eu?” (1989), a batalhadora Clara, de “Barriga da aluguel” (1990), a guerrilheira Heloísa, de “Anos rebeldes” (1992), e a “cachorra” Laura, de “Celebridade” (2003), Cláudia acredita que o fato de ter amadurecido no vídeo deu a ela uma cumplicidade com o público:
— Eu quero ser uma mulher bonita na minha idade. Não adianta todo mundo me assistir há tantos anos, saber que tenho quatro filhos e eu estar com uma cara de plástico.
Com planos de voltar ao teatro depois da novela, Cláudia, que também toca a produtora Goritzia com o marido, não pensa em mais filhos.
— Noviça rebelde, não! Já tá legal assim.
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